Análise: Resident Evil Operation Raccoon City (PS3)

A Capcom surpreendeu a todos ao anunciar Resident Evil: Operation Raccoon City . O game prometia muito de algo que os fãs não viam há mui... (por Unknown em 18/05/2012, via PlayStation Blast)

A Capcom surpreendeu a todos ao anunciar Resident Evil: Operation Raccoon City. O game prometia muito de algo que os fãs não viam há muito tempo, uma volta às origens. Infelizmente, não é nada disso que vemos no produto final. Com um enredo que deixou muito a desejar, aliado a controles horríveis, o game foi uma das grandes decepções do ano. Mas o que se perdeu ao longo de sua produção? Afinal, neste jogo há pontos positivos, ou ele é apenas mais um fiasco dos grandes? Leia nossa análise e opine com a gente.

Lembro que no período em que se iniciou a fase de pré-venda do jogo, eu já estava com o pé muito atrás. Mas como fã que é fã não tem medo de quebrar a cara, acabei comprando. Resultado? Bom, deixando as frustrações de lado, divido com vocês algumas de minhas impressões. Apesar de ser algo praticamente impossível, deixo claro que fiz as considerações sobre o game de forma imparcial. No entanto, ao final desta análise compartilharei com o leitor uma opinião que acredito ser partilhada por muitos gamers de hoje em dia.

Seja o “vilão” da história

O jogador estará na pele de um agente da Umbrella - a grande responsável pela criação dos monstros e zumbis dos primeiros games da série – que precisa apagar os vestígios deixados pela companhia na cidade de Raccoon City. Essa era a grande premissa de REORC. A escolha do título não poderia ser mais significativa, a proposta era despertar nostalgia pura nos fãs, especialmente nos do terceiro jogo, que tinha como cenário a cidade devastada. Lugares mais do que datados e memoráveis foram prometidos, permitindo em tese que o jogador os revisitasse e pudesse explorá-los sob uma nova perspectiva. Somar-se-ia isso à inclusão de personagens clássicos como Leon, Nicholai, Hunk e a grande surpresa (por mais triste e irônico que isso pareça): zumbis. Sim! Os zumbis estariam de volta, para a alegria de todos nós.

Na teoria, o game possuía a receita perfeita para o sucesso: Ele introduziria e até mesmo explicaria novos elementos da complexa e muitas vezes mal contada história da série; adotaria uma nova mecânica adequada especificamente aos moldes atuais do gênero de ação em terceira pessoa sendo que, ao mesmo tempo, recuperaria a essência de uma franquia que vinha perdendo seu foco nos últimos títulos. Percebam bem o que eu disse, “na teoria”. Pois é, infelizmente a prática mal executada disso tudo foi um fiasco sem tamanho.

A história em si não é nem de longe o grande problema aqui, pois afinal de contas ela cumpre o seu papel de introduzir uma nova perspectiva à narrativa. Só que mesmo não sendo o grande problema, ela ainda assim é inegavelmente dona de uma importância significativa para o game como um todo. O modo como a trama é contada deixa muito a desejar. Antes de cada missão, você pode escolher entre diferentes agentes, cada um com habilidades e características próprias. Mas o fato é que você não sente empatia nenhuma pelos personagens desse jogo, seja pelos soldados controlados por você ou mesmo pelos clássicos heróis da série. Arrisco-me a dizer que são os zumbis que roubam a cena durante o jogo, porque é mais divertido assisti-los perambular pela cidade do que tentar se envolver com os personagens.

Controles e Bugs que frustram até os mortos-vivos

As falhas na narrativa podem até ser engolidas pelos fãs, afinal, são eventos novos complementares à história principal. Mas nos aspectos que dizem respeito à maneira de jogar, a Capcom e a Slant Six vacilaram feio, falhando drasticamente nos controles. A jogabilidade, que era para ser um avanço, é um grande retrocesso, se comparada a jogos da série tais como Resident Evil 4 e 5. Mais do que isso, o que vemos é que REORC é uma versão tosca, genérica e mal acabada do estilo de títulos como Gears of War, Lost Planet e demais jogos do gênero. Os controles são tão ruins que tiram muito da pouca diversão que o game proporciona. Isso sem falar que o jogador tropeçará com frequência em bugs medíocres, que dão a impressão de que o jogo foi feito às pressas e está mal acabado.

Triste? Espere pra ver o jogo em si. O retrocesso não limita-se apenas à jogabilidade. Raccoon City não é um jogo feio esteticamente, mas já nasceu para lá de ultrapassado. Você só tem noção do tamanho do problema quando constata que Resident Evil 5 é mais bonito que seu sucessor. É claro que gráficos nunca foram sinônimo de jogo bom, mas desleixo gráfico é diferente. Os cenários escapam um pouco disso – apesar de escuros demais – mas o design dos personagens é imperdoável. Simplesmente não há vida neles.

Tem como ficar pior? Tem sim! Os combates do jogo são horrivelmente chatos e sem graça, além de repetitivos e irritantes. Parece que não importa aonde você atira (com excessão dos zumbis), pois o efeito de dano parece sempre o mesmo. Na verdade os inimigos nem ao menos reagem a tiros na perna ou no braço, muito menos a tiros na cabeça. É até mesmo difícil perceber se você está ou não matando-os, visto que eles se movimentam como se não estivessem sendo baleados.

E não pensem que isso acontece apenas com os inimigos comuns, os chefes sofrem do mesmo problema. Esses são erros que muitos podem considerar pequenos, mas que eliminam muitas das possibilidade estratégicas ao se jogar. Não há inventários manipuláveis nem armas customizáveis e muito menos combinação de ervas. Some isso tudo a uma inteligência artificial medíocre - que acaba com toda a imersão ao se jogar – e a um dos piores sistemas de cobertura já feitos para jogos do gênero.

Não dá para esquecer de mencionar também, que nossos companheiros de esquadrão são verdadeiros “pamonhas” que simplesmente nos ignoram, ficando alheios a todo o caos que acontece ao nosso redor. No jogo há uma total ausência de companheirismo. Logo, se você está sendo fuzilado, mordido ou as duas coisas ao mesmo tempo, é melhor não esperar por aquela ajuda amiga que normalmente costuma aparecer nos momentos críticos.

Essa experiência cooperativa tinha tudo para dar certo. É uma pena que a produtora tenha errado feio ao não trabalhar esses vários aspectos da inteligência artifical no modo singleplayer. Já em relação ao multiplayer, as coisas melhoram um pouco, pois você pode convidar amigos para completar as missões do modo história com você. Garanto que eles serão melhores aliados do que os palermas controlados pelo computador.

Há uma considerável variedade de modos de jogo, indo desde o clássico “mata a mata” até modos mais elaborados, como um onde há uma opção onde ganha a equipe que fugir do local em um helicóptero, ou seja, o enfoque no trabalho em equipe prevalece aqui. Caso o modo de um jogador comece a te irritar (acredite, ele vai) a jogatina online pode ser uma boa válvula de escape. Se você não se importar com bugs simplórios, é até divertido jogar com outras pessoas em meio a hordas de zumbis. Ao menos nesse ponto a produtora foi feliz.

De forma mais clara, se você não é do tipo que curte uma partida online, vai se decepcionar mais ainda com o game. A trama é rasa, a jogabilidade é sofrível e você se irritará constantemente ao longo da história. É realmente uma pena. O título tinha tudo para dar certo e oferecer uma boa diversão aos fãs. Ideias boas e interessantes falharam ao ser implementadas juntamente com a jogabilidade. Esse é um clássico exemplo de como algo pode funcionar de forma brilhante na teoria e ser uma tragédia na prática.

“Resident Evil” apenas no título…

Parece sensacionalista demais afirmar isso. Mas acreditem, infelizmente esse jogo passa longe da série. Por mais que o cenário desperte nostalgia, ela pára por aí. Confesso que fiz cara de poker face durante todo o momento que joguei por causa de um único detalhe: ONDE ESTÃO OS SUSTOS?

Onde já se viu um game da série Resident Evil não possuir momentos de horror, suspense, tensão e sustos? Eles eram o cerne da franquia (vejam a imagem do inimigo acima e digam se ele possui organicidade. Pode algo completamente artificial despertar terror?). Ao invés de uma volta as origens, o que temos é um game com 100% de combate e 0% de elementos essenciais da série. Como a Capcom comete uma gafe desse tamanho? Tenho uma pequena teoria que vou compartilhar com vocês…

Querendo ou não, o fato é que o público gamer mudou. Por mais que haja uma fiel resistência que se recusa a cair nos modismos, a chamada “geração Call of Duty” domina o mercado, são os seus membros que fazem filas quilométricas para comprar um produto que é o mesmo jogo com um nome diferente. Logo, é regra básica de mercado meu amigo: se eu tenho um público X que gosta de determinado gênero, o meu produto Y tem que se adequar a esses moldes, ou então estou fora da disputa.

O motivo por trás da criação de Resident Evil: Operation Raccoon City está justamente aí. Ou vocês acham que a Capcom pensou: “Nossa, coitadinhos dos fãs, eles merecem uma história que remeta às origens da série com uma nova jogabilidade”. Só que aconteceu o seguinte: a produtora acabou dando um tiro no próprio pé. O game é uma mistura trágica de FPS com ação em terceira pessoa. Os zumbis, elemento de horror nos games anteriores, são meros coadjuvantes no cenário. Já no que diz respeito a jogabilidade, são eles que roubam a cena, pois são muito mais interessantes que os personagens canastrões oferecidos.

Agora vem o motivo da minha frustração e indignação com grande parcela do público gamer: Vocês ainda possuem dúvidas da minha teoria exposta acima? Então não se surpreendam ao saber que o game já vendeu 2 MILHÕES de cópias. Isso mesmo. Ao que parece, essa fórmula de adequar uma franquia à demanda do mercado surte resultados financeiros. Mas quem sofre as consequências somos nós, os fãs de verdade. Não estou dizendo o que um jogador deve ou não comprar, afinal, gosto é uma questão puramente individual. O que quero fazer é chamar a atenção para que eles não se tornem “peões” num jogo de xadrez da produtora. É justamente essa geração tão focada em games rasos e sem conteúdo que estimulam a produção de títulos como esse.

Não importa se o jogo foi feito pela Slant Six e não diretamente pela Capcom, ela é supervisora e possui mais culpa ainda no cartório. É por isso que os comentários e análises sobre o game ao redor do mundo foram tão sinceros e desastrosos. Concordo em gênero, número e grau com cada um deles. Inclusive com o brilhante comentário do Audrey Drake da IGN: “Um apocalipse zumbi de verdade seria menos desastroso”. O público gamer não é idiota, afinal.

Não estou dizendo que Resident Evil: Operation Raccoon City não é divertido, pode até ser. Só que fica o alerta para os jogadores e o aviso para a Capcom: não iluda os fãs prometendo mil maravilhas, para depois entregar um produto que não passa de simples ação desenfreada.

É pessoal, infelizmente a produtora está mais preocupada em lançar DLCs que mudam a cor do cabelo e o sapato de personagens, do que ficar atenta às exigências dos fãs. Que Deus nos abençoe com Resident Evil 6.