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Análise: Shadows of the Damned (PS3)

Cansado dos shotters convencionais e com saudade daqueles gêneros que possam, mesmo que de longe, lembrar os antigos sustos que você leva... (por Unknown em 13/04/2012, via PlayStation Blast)

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Cansado dos shotters convencionais e com saudade daqueles gêneros que possam, mesmo que de longe, lembrar os antigos sustos que você levava ao jogar os games do passado? Então Shadows of the Damned pode ser uma boa surpresa. O título é da produta Grasshopper Manufacture, conhecida pelo seu estilo pouco ortodoxo. Ao longo da análise, serão feitas considerações acerca dos principais pontos positivos e negativos do jogo, e ao final será apresentada uma breve discussão sobre o gênero de terror em si e o seu papel cada vez mais omisso nos jogos atuais. Recarregue sua Big Boner e acompanhe nossa matéria.

O que torna um jogo bom? Sua história, gráficos, jogabilidade e trilha sonora? Ao menos essa é a premissa que têm o mercado hoje em dia. Mas o que dizer de um jogo que carrega consigo aspectos já ultrapassados mas inova brilhantemente na ambientação? Esse é o principal ponto a ser destacado sobre Shadows of the Damned, o seu ambiente.

 

Um inferno diferente

Vários games tentaram recriar, por meio de diferentes perspectivas, aquele que deve ser o local mais temido por muitos, o inferno. Dante’s Inferno nos apresenta um local recheado de almas punidas eternamente pelos seus pecados. Já God of War, por mais que não siga bem essa premissa, mostrava corpos flamejantes caindo em desespero. Mas nada se compara à viagem de Shadows of the Damned, que apresenta um local nunca antes imaginado nem nos seus mais profundos devaneios.

A história do game gira em torno do caçador de demônios profissional Garcia Hotspur, de sua mulher Paula e de seu companheiro Johnson, um demônio capaz de se transformar em diversas armas, podendo ser considerado como a “ferramenta” do protagonista. A trama tem início quando o rei dos demônios Fleming, com o intuito de se vingar de Garcia, mata a sua amada Paula e arrasta sua alma para o inferno. Obviamente, o personagem parte em uma jornada buscando vingança e o resgate de sua companheira.

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Por mais que a história pareça clichê (Orfeu concordaria), basta alguns minutos de jogo para perceber como a mesma é bem desenvolvida e criativa. O principal destaque vai para o próprio inferno, brilhantemente remodelado para transparecer à nossa sociedade atual. Então esqueça almas em constante agonia e sofrendo pela eternidade. Aqui, o inferno é uma espécie de “Las Vegas das almas penadas”, visto que possui clubes de strip e opções de diversão.

Fleming é outro show a parte. Saindo novamente daquele clichê onde o vilão faz alguma atrocidade no início da história e depois aguarda pacientemente à chegada do protagonista, ele participa ativamente da trama, matando a amada do herói inúmeras vezes ao decorrer da aventura, testando assim a sua coragem e determinação.

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Mas não pense que o game baseia-se só em dramas amorosos e vingança. Há inúmeras situações cômicas, e os grandes responsáveis por elas são justamente Garcia e Johnson, que partilham um misto de amor e ódio quanto às suas personalidades. É muito divertido ver a relação entre os dois e a forma como ela é apresentada, seja positiva ou negativamente. Enfim, é uma espécie de dialética de personalidades que combina muito bem com a história do jogo.

Só que infelizmente os personagens não são desenvolvidos além disso. Por mais que a história leve a um rumo condizente com emoções e o desenvolvimento psicológico dos personagens, tudo é muito vazio, não indo além do apresentado ao jogador. Mas reitero que, se você não se importar com isso, terá uma ótima experiência com o game.

Quem tem medo do escuro?

Luz x Trevas. Esse é o tema principal de toda a jogabilidade. A ideia é simples, mas bem desenvolvida: a luz oferece proteção ao personagem, ajudando-o a lidar com as criaturas; já as trevas consomem sua vida pouco a pouco, deixando-o à beira da morte. Porém, tanto a luz quanto às trevas são necessárias para que o personagem avance na trama. Por exemplo, apesar das trevas consumirem energia, elas são necessárias para acessar determinados locais, além de serem úteis para derrotar alguns inimigos. De certa forma essa necessidade adiciona alguns elementos de estratégia ao game, pois é preciso ter cuidado para não se utilizar muito das trevas e acabar morrendo.

Essa dualidade é a diferença de Shadow of the Dammed em comparação a outros jogos do mesmo tipo. Quando não se faz uso dessa função, o game se transforma em um shotter, e de certa forma até se sai bem nesse quesito. O personagem principal possui três opções de armas que podem receber upgrades e evoluir, e é obrigado a trocá-las com frequência para não ser surpreendido ou morto pelos inimigos. Essa troca forçada de armas tem suas vantagens, impedindo que o jogo se torne repetitivo.

Novamente marcado por uma dualidade, o jogo se divide em exploração com resolução de enigmas e lutas contra demônios. Quase todo o tempo de jogo é passado vasculhando o inferno em busca de itens necessários para liberar novas localidades. Então, não se desespere ao ter de percorrer diversos lugares em busca de morangos, olhos e cérebros, usados para abrir portas. Por mais que pareça, a busca não é cansativa, mas a criatividade usada na história, nas armas e nos inimigos é ausente aqui, pois os enigmas se tornam cada vez mais óbvios à medida que o jogo avança.

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E a repetição excessiva não para por aí. Os inimigos também não escapam a esse mal, aparecendo repetidamente e de forma exagerada. Os combates sempre são feitos contra os mesmos tipos de demônio e, por mais que a produtora tenha se esforçado em torná-los diferentes quanto à habilidade, o esforço não compensa. Felizmente isso não acontece com os chefes, todos muito bem elaborados; indo desde Fleming, com seus seis olhos, até uma ave engraçadíssima que grita “Fuuuuck youuuu” durante toda a batalha.

Mas ao decorrer do game, fica nítida à questão de uma perda de foco. Enquanto no início você se vê obrigado a explorar o local e matar os monstros pelo caminho, nas partes finais do game a jogabilidade muda radicalmente. Ele se transforma em um shotter desenfreado onde o personagem principal deve dar cabo de hordas e mais hordas de inimigos, deixando a exploração e o mistério de lado.

Parece que a dualidade é marcante em todos os aspectos do game, pois ele possui muitos pontos positivos, mas esses quase são compensados pelos pontos negativos. O game não é o exemplo mais belo de um shotter aliado a alguns aspectos de survival horror mas ao menos é divertido.

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O mundo do game é de longe um dos mais excêntricos que já vi. A produtora parece ter se inspirado em Dante e sua “Comédia” para dar vida a um inferno muito peculiar. Cada área do inferno tem aparência distinta, com áreas pra lá de macabras e também carismáticas, visto que, ainda que o estilo seja meio dark, os cenários são muito coloridos e vivos.

Obra de arte para os ouvidos

A dublagem do game é outro ponto de destaque. Os dubladores de Garcia e Johnson atuam em perfeita sincronia, transmitindo ao jogador uma sensação que o leva a perceber homem e arma como amigos, apesar de todas as suas diferenças. Mesmo os personagens secundários são retratados de forma louvável, transparecendo um cuidado e acima disso, um preparo da produtora com esse aspecto.

Mas o melhor mesmo fica com a trilha sonora, a cargo de Akira Yamaoka. Ele é o responsável pelo trabalho em Silent Hill, o que já alavanca a imagem do game diante de um público que se importa com a trilha sonora. E isso já fica evidente com a primeira música apresentada, uma espécie de mash up com a música tema do filme “Balada do Pistoleiro”.

Em todas as cenas os sons são cuidadosamente incorporados, de modo que fazem parte da trama de forma intrínseca. Sem mencionar os próprios efeitos sonoros, onde cada monstro é dotado de uma voz, gemido e gritos próprios, sendo possível até mesmo identificá-los pelo barulho. Prova de que a produtora teve muito cuidado com esses aspectos.

Oba! Adoro survival horror, posso comprar?

Cuidado! Tem muita gente se enganando e comprando o game achando que vão encontrar um Resident Evil 2. Shadows of the Damned é um bom game, mas não pode ser considerado um digno game de horror.

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Aqui e ali, todos idolatram o fato dele ser fruto de uma parceria entre Shinji Mikami (considerado por muitos o criador de Resident Evil) e Goichi Suda (responsável por séries como No More Herores e Killer 7). Ou seja, muitos esperam que um jogo onde se tem uma autoridade em gêneros de survival horror e outra especializada em espécies diferentes de violência, pode ser considerado como uma obra onde se reúne o melhor dos dois mundos. Ledo engano, pois o game não tem nem de longe uma trama tão profunda que possa deixar o jogador noites a fio pensando em como tal ou tal coisa aconteceu, e de quão assustadora ela é.

Em discussão semelhante, argumentei que o gênero survival horror como visto nos jogos antigos, está cada vez mais extinto. Atualmente, o máximo que podemos ver são jogos que incorporam essa temática com uma jogabilidade mais focada na ação, o que é o caso de Shadows of the Damned. Que me desculpem os mais apegados à franquia, mas a história é só uma desculpa para se atirar em alguns zumbis. Como game de ação/exploração e alguns requintes de terror, isso funciona de forma louvável. Mas no que diz respeito à uma história consistente que prenda a atenção do jogador e o faça reviver as situações ocorridas pelo personagem, o game fica devendo e muito.

Mas é como eu disse anteriormente, se essas questões não te incomodam, vá em frente e dê uma chance ao game. É muito difícil que você vá se arrepender. Shadows of the Damned é um jogo que passou batido por muitos gamers, mas que merece ao menos o seu lugar ao sol como uma iniciativa muito boa de uma produtora que decidiu inovar e reinventar o gênero de ação com alguns requintes de terror.

Prós

  • O inferno mais legal já visto nos games.
  • Excelentes dubladores e trilha sonora impecável.
  • Chefes interessantes e divertidos de enfrentar.

Contras

  • Repetição de enigmas e inimigos que enjoam facilmente.
  • Bugs irritantes.
  • Não há conteúdo que estimule o jogador a continuar jogando após terminar a história.
  • Curta duração.

Shadows of the Damned – Playstation 3 – Nota: 8

Gráficos: 6| Som: 9| Jogabilidade: 7| Diversão: 8

Revisão: Leandro Freire


Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

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