Perfil: Elena Fisher (Uncharted)

É meus amigos, já se foi o tempo em que as garotas serviam apenas como coadjuvantes nos jogos de vídeo game. Princesas indefesas esperando ser salvas pelo herói bonzinho, seja ele bigodudo ou com gorro verde. O fato é que elas desempenham um papel cada vez mais importante, muitas vezes até mesmo protagonizando algumas histórias. Representando papéis que vão desde exploradoras destemidas, exterminadoras de dinossauros ou sobreviventes de um apocalipse zumbi; Mas nenhuma delas é de nosso interesse hoje. Vamos falar de uma personagem que conquistou os fãs de Uncharted pela sua beleza, carisma e principalmente pela sua obstinação. Obviamente, vamos falar de Elena Fisher.

 

Atenção: esse texto pode conter spoilers para quem não jogou os títulos da série Uncharted. Continue lendo por sua própria conta e risco.

 

Hoje em dia tem-se feito mais e mais pesquisas sobre o papel da mulher em nossa sociedade. A dona de casa de meados do século XX deu lugar a uma mulher forte e independente, que não precisa mais de algum marmanjo de plantão para trocar uma lâmpada ou mesmo lhe dizer o que fazer. E como os games são um reflexo de nossa sociedade (acredite, eles são), nada mais justo do que as personagens femininas ganharem cada vez mais voz ao decorrer das narrativas interativas.

Dessa forma, fica justificado o interesse em se analisar o papel desempenhado pelas musas que, se muitas vezes não estão no papel principal, auxiliam e muito a vida dos protagonistas.

 

Mas afinal, quem é Elena Fisher?

 

Ao longo de todos os três jogos da série, o que fica evidente é a personalidade de Elena. Sempre obstinada, mas ao mesmo tempo descontraída, sarcástica e com bom senso de humor, ela conquista qualquer fã com o seu carisma.

De acordo com suas escassas informações, Elena é uma jornalista, conquistando sua fama ao participar de um reality show na TV e, posteriormente, conseguindo seu próprio programa investigativo, desvendando os quatro cantos do mundo em busca de histórias. Apesar de ter um programa bem sucedido, seu orçamento é escasso, de modo que é ela a responsável por produzi-lo e apresentá-lo.

 

Em uma de suas aventuras, a personagem conhece o caçador de tesouros Nathan Drake, que estava à procura da tumba de seu ancestral, o famoso corsário Sir Francis Drake. Interessada pela história, Elena patrocina a viagem de Drake em busca de um diário contendo informações a respeito do pirata, ou ao menos era isso que ela pensava. A partir de então, há uma reviravolta na vida da personagem, que passa a encarar desafios jamais imaginados ao longo de sua carreira como repórter. Sua relação com Drake passa por diversos momentos “novelísticos”, daquele “chove não molha” a situações onde acabam por expressar seus sentimentos. Mas no que diz respeito à sua participação na série, Elena passa mais ou menos por três fases, correspondentes, obviamente, à trilogia dos games.

 

Da mocinha carismática à mulher exploradora

 

Em Uncharted: Drake’s Fortune, Elena viaja juntamente com Drake em busca do seu antepassado, mas ao decorrer da viagem, os dois acabam por descobrir pistas sobre o El Dorado (futuramente os dois descobrem ser uma maldição que poderia acabar com toda a humanidade). Com todo aquele ar de cavalheiro e querendo protegê-la dos perigos, Drake engana Elena, partindo sozinho em sua jornada pela cidade de ouro.

 

É nesse momento que tomamos contato com a personalidade de Elena. Odiando ser deixada de lado, ela segue os passos de Nathan até as profundezas da floresta Amazônica. A partir daí, ela não só auxilia o aventureiro em diversos momentos, como até mesmo salva sua vida uma vez ou outra, o que demonstra boa parte de sua personalidade, visto que, mesmo diante do perigo, ela acaba por superar seus medos em prol da curiosidade jornalística.

 

O fato é que, ao menos no primeiro game, a participação de Elena na trama se resume mais ao seu papel como “ajudante” de Drake. Juntamente com ele, são protagonizados os momentos mais marcantes, engraçados e emocionantes da história. Mas é no ato final que ela demonstra sua importância, sendo crucial o seu papel para que a maldição de El Dorado não saia da ilha e acabe com o mundo.

 

 

E como o melhor sempre fica para o final, quem devolve ao protagonista o seu famoso anel (crucial para toda a história do terceiro game) é ela, que o coloca em seu pescoço e é interrompida por Sully em um daqueles clássicos momentos de “beijo obstruído”. Assim acaba a história do primeiro game, mas são justamente os silêncios deixados ao decorrer da trama que abrem margem para uma interpretação da importância de Elena para os jogos futuros.

 

Da ex-namorada revoltada à mulher romântica

 

Em Uncharted 2: Among Thieves, surge uma nova figura feminina na pele de Chloe, mulher exploradora e que acaba se tornando o novo affair de Drake. Ao decorrer do game, a narrativa nos dá a impressão de que Elena foi apenas uma parte importante da primeira história, mas que ficou para trás. Porém, e são essas reviravoltas que fazem da série um grande sucesso, Elena volta à cena de uma forma surpreendente (eu pelo menos me surpreendi), topando com Drake em meio aos caos de uma guerra civil no Nepal.

 

Fora o encontro inusitado, é engraçadíssimo ver como os personagens se relacionam, pois ambos estranham à companhia um do outro (pra quem não se lembra, Elena também estava acompanhada de seu amigo Jeff). Só que ao contrário da Elena divertida do primeiro game, dessa vez ela está ríspida e ao que parece, um tanto quanto magoada com o protagonista. Novamente, devido às suas atitudes no segundo jogo, fica a impressão de que após os acontecimentos de El Dorado, Drake a deixou de lado.

 

Mas isso muda ao longo da história, pois Drake em diversos momentos mostra-se preocupado com Elena e ao decorrer dos acontecimentos, ele sofre um grave acidente e é levado à aldeia de Schafer. Esse ponto é um dos mais belos de toda a trilogia, a aldeia é um ambiente fantástico, não só pela vida que emana do ambiente, mas pela sua influência na relação dos dois.

 

É durante esse momento que podemos ver a aproximação do futuro casal. E isso fica nítido em uma das cenas mais importantes da trama, quando Elena leva um tiro e todos estão fugindo do caos da montanha. Em meio aos braços de Drake, a personagem desfalece, deixando aquela tensão no ar. Na cena seguinte, a câmera mostra uma lápide tibetana, os mais emotivos com certeza pensaram ser a lápide de Elena, quando na verdade era de Schafer, que morreu bravamente.

 

 

A principal questão aqui é justamente como a presença de Elena faz com que Drake demonstre seus sentimentos, é a primeira vez ao longo de toda a história que vemos o explorador tão emotivo. E são essas emoções que tornam o final tão belo. Em meio ao pôr do sol, os dois se beijam, para logo depois entrar em cena aquelas clássicas passagens cômicas onde Elena sempre deixa Drake encurralado. De certa forma, o segundo game constitui-se como a etapa mais importante para a consolidação do relacionamento entre os dois.

 

Da mulher melancólica à companheira de aventuras

 

Após todas essas reviravoltas, é no terceiro game da série Uncharted: Drake’s Deception que a história dos dois parece ter um final. Elena aqui aparece como alguém profundamente magoada, mas acima de tudo, cansada. A mulher aventureira dos dois primeiros jogos não quer mais saber de arriscar a pele em busca de grandes tesouros e de grandes problemas.

 

Apesar disso, como sempre, ela acaba envolvida na história. Mas, apesar de ajudar Drake a embarcar em um avião rumo ao deserto, ela não o segue até a cidade perdida, não fazendo parte desse momento.

 

Uncharted 3 gira em torno do anel de Drake, mas não somente dele, pois tanto ele como Elena carregam anéis, com significados diferentes. Os anéis tanto significam a ligação de Drake com o seu passado, como a ligação entre os dois. Novamente, a importância de Elena é fundamental para que Nathan deixe seu passado ir embora, almejando assim uma nova vida. A cena final da trama faz alusão a isso, pois interrogado por Elena sobre a perda do anel de Sir Francis Drake, Nathan diz que não tem problema, pois ele possui um melhor (o anel de compromisso dos dois). E assim termina a história, deixando no ar a dúvida se os protagonistas se casam, ou se haverá mais novela no próximo Uncharted.

 

Considerações Finais

 

Vale a pena ressaltar a influência psicológica de Elena sobre Drake. A personagem surgiu como uma forma não só de humanizar o protagonista, mas também de pôr em xeque discussões sobre uma ideia comum de moral, ou principalmente, de consequências.

 

 

Ela pode ser considerada como um clássico exemplo de personagem que se sobressai a ponto de ganhar uma importância enorme na história, não apenas nos momentos cruciais, de vida ou morte, mas por todo o papel desempenhado no processo de construção do próprio caráter do personagem principal. Tanto é que um dos seus principais pontos é a naturalidade de suas ações e a forma como expressa seus sentimentos. O seu modo de encarar as coisas, sua inteligência e claro, sua beleza, encantam todos aqueles que jogam a série Uncharted.

 

A título de curiosidade, a personagem é representada e dublada na vida real por Emily Rose, modelo responsável não só pela aparência da moça, mas por toda a sua naturalidade. Esse é um ponto sempre positivo sobre a série, a fluidez com que os personagens são interpretados e construídos, refletindo sempre expressões limpas, fluídas e muito bem articuladas entre si.

 

 

Enfim, a importância da personagem é tamanha que podemos considerar que Nathan Drake sem Elena Fisher não é Nathan Drake.

 

Revisão: Rafael Becker