Discussão: PS Vita - Fadado ao Sucesso ou ao Fracasso?

Sempre que um novo console é lançado, dúvidas ficam no ar. Será que ele conseguirá superar seu antecessor? Será que repetirá o sucesso? Será que repetirá o fracasso? Será que vai vencer sua concorrência? O PlayStation Vita chegou cheio de dúvidas e com dois enormes desafios pela frente: superar o desempenho aceitável do PSP e enfrentar o sucesso crescente do Nintendo 3DS no Japão. Com o lançamento mundial prestes a acontecer e uma situação nada otimista lá pela terra natal da Sony, fica a questão: será que o Vita é capaz de ser tudo que prometeu?

Alguns pontos devem ser levados em conta para falar do desempenho do PS Vita: o preço, a questão dos Memory Cards serem uma mídia exclusiva e cara, os jogos disponíveis, o hardware em si e a concorrência. Esses fatores formam uma equação única e o resultado pode ser bem mais complexo do que apenas "sucesso absoluto" ou "fracasso histórico".

Fator 1: Preço

O PlayStation Vita já exibe uma fraqueza na questão do mercado, já que seu valor é maior do que todos os concorrentes. A versão Wi-fi custa US$ 249,00 e a 3G, US$299,00. É o mesmo valor do Nintendo 3DS em seu lançamento, e a Nintendo foi obrigada a cortar drasticamente o preço para manter as vendas.

Outro fato no mínimo curioso é que um PS3 novo, comprado nos EUA, também tem esse valor. Por mais que o PS Vita seja um lançamento, tenha tecnologia de ponta e tenha um grande e brilhante futuro, pouca gente irá preferir gastar esse valor com um portátil quando se pode adquirir um console que também funciona como blu-ray player, DVD player e até para navegação na internet, além dos serviços Netflix, Music Unlimited, entre outros. Essa questão se estende para a próxima, que é...

Fator 2: Memory Cards como mídia exclusiva

Ok, você juntou seu suado dinheirinho e comprou seu PS Vita. Mas, olha só, para poder salvar seu progresso nos jogos, você precisa comprar um Memory Card. Esse cartão de memória é basicamente uma volta ao passado. Lembra-se dos Memory Cards do PS e do PS2? Lembra-se dos problemas que isso às vezes gerava?

Quando digo problemas eu quero dizer desde a falta de espaço até o fato de algumas vezes a bateria do Memory Card falhar e apagar todos os saves. Mas a questão do PS Vita é ainda mais séria: o preço dos Memory Cards. O mais barato custa US$19,99, e cada jogo gira em torno de US$49,99. Você pode então dizer: "mas o Vita pode acessar a PSN e fazer o download de jogos por US$4,99!". Certo. Mas para isso você precisa do Memory Card para instalar o jogo. E pior: esse mais barato, de US$19,99, tem apenas 4GB de memória. Pense em quantos jogos e saves você pode manter nesse espaço. Uma dica: é muito pouco.

Vamos às contas, então: US$249,90 na versão Wi-Fi do Vita; US$19,99 no Memory Card de 4GB; US$49,99 no Uncharted: Golden Abyss. Vamos localizar esses valores e dizer que você vai importar tudo isso. Jogando US$10,00 de frete, o valor total é de US$328,90. Com a cotação atual do dólar girando em torno de R$1,78, o valor em reais seria de R$587,50. Se você for azarado, ainda pode levar 60% de taxação da Receita Federal e ter de pagar mais R$350,00. Mesmo que não pague, esses quase R$600,00 não formam exatamente um valor atrativo, e pensando que toda essa conta foi feita levando em consideração apenas os menores valores disponíveis, comprar um Vita em seu lançamento é coisa para quem pode. E a maioria não pode.

A tática da Sony na América Latina (incluindo o Brasil), ao que tudo indica, é lançar uma edição especial contendo o PS Vita, um case para proteção e armazenamento do console, o jogo ModNation Racers Road Trip e um cartão de memória de 4GB. Como todos conhecemos bem o mercado brasileiro, dá para chutar o valor desse kit em torno de 800 ou 900 reais. Eu chutaria mais, mas prefiro esperar e dar risada. De qualquer maneira, essa estratégia do kit seria benéfica se aplicada no mundo todo, com um preço menor.

Fator 3: Jogos disponíveis

Nesse ponto, o console é bem atrativo. Entre Uncharted: Golden Abyss, Silent Hill: Book of Memories, LittleBigPlanet, Touch My Katamari e outros, o jogador ficará bem servido, e praticamente qualquer pessoa terá algo que se encaixe com seu gosto. Além disso, o Vita também conta com jogos que utilizam a realidade aumentada, como Reality Fighters.

Uma das maiores forças do console é justamente a biblioteca de jogos e, acima disso, as inovações interessantes aplicadas. Pode não parecer novo dizer que ele tem uma tela de toque e um touch pad traseiro, mas, na prática, isso pode ser inteligentemente aplicado a qualquer jogo. Desde a forma interessante de diminuir e aumentar objetos em LittleBigPlanet até o sistema de "aponte e pule" de Uncharted, os desenvolvedores se esforçaram para aproveitar as possibilidades. O Vita inclusive sai na frente da concorrência na questão software. Sua biblioteca inicial é maior e conta com nomes de muito mais peso. Infelizmente, com a questão dos Memory Cards, fica difícil simplesmente aproveitar a biblioteca.

Fator 4: O console

Os jogos aproveitam muito bem as possibilidades do Vita, mas quais são elas? Além da tela de toque e do touch pad, ele possui uma capacidade de processamento enorme, com um processador de quatro núcleos e os impressionantes 512MB de memória RAM. Para referência, o PS3 tem apenas 256MB de RAM dedicada a jogos.

A possibilidade de uma conexão 3G é muito atrativa, dando ao console usos mais variados e até mesmo aproximando-o de um tablet ou um smartphone. A parte triste é a sua bateria: ela dura apenas de 3 a 5 horas, isso sem usar o som, sem conexão com a internet e com o brilho da tela no nível padrão.

O sistema Near (claramente uma tentativa de acompanhar o StreetPass do Nintendo 3DS) é interessante e promove uma união dos jogadores, mas o fato de funcionar em separado e externamente aos jogos e aplicativos corta um pouco o sentido dele. A mudança do XMB (o esquema de navegação de menus padrão da Sony) para as bolhas contendo os aplicativos e jogos deve desagradar muita gente, especialmente porque o novo esquema traz uma desorganização bem grande.

Fator 5: A concorrência

O último fator é um dos mais complicados. Quando o Nintendo 3DS foi lançado, sua performance nas vendas foi muito questionada, e muitos até pensaram que a companhia fosse desistir do console. Foi necessária um corte enorme do valor, custeado pela própria Big N, e o lançamento de diversos jogos (mais especificamente um Monster Hunter) para tirar o Nintendo 3DS do limbo comercial em que ele se encontrava no Japão. E, embora no resto do mundo ele ainda esteja lutando para se firmar, o console tornou-se uma febre nipônica e domina o mercado de games desde então no país.

É nesse cenário que o Vita está tentando se intrometer. Chegando após seu concorrente, com inovações difíceis de serem percebidas a olho nu e um valor total bem salgado, ele é obrigado a enfrentar um console bem sucedido, derivado de outro que teve um resultado ainda melhor, que chama muito a atenção pelo uso do 3D sem óculos (ainda que esse fator incomode muitos jogadores) e um valor bem acessível. O 3DS ganhou tanto espaço e se firmou tanto na mentalidade das pessoas que é difícil para outro portátil fazer o mesmo a essa altura. Sem dúvidas, esse é o maior desafio do Vita.

Mas voltemos ao início desse fator: o 3DS firmou-se apenas no Japão, e uma das maiores razões foi o lançamento de Monster Hunter Tri G. O resultado decepcionante das vendas do PS Vita no Japão refletem a questão dos gostos dos orientais. Uncharted não é uma série tão consagrada lá, mas no Ocidente é uma verdadeira febre. Talvez, e é apenas uma suposição, isso seja o bastante para tornar o console um sucesso no nosso lado do mundo, mas essa suposição é tão vaga e é tão difícil equilibrar esse fator com o valor do console e seu Memory Card que é mais fácil dizer apenas: "quem sabe?".

Conclusão

Fato é que a Sony precisa ajustar sua estratégia se quiser que o Vita se torne maior do que o PSP foi. Enquanto ele patina no Japão, já nascem boatos sobre um Monster Hunter Vita. Sem facilitar a vida do jogador com valores mais acessíveis e uma campanha mais sólida para tornar o console um objeto de desejo, a companhia estará cometendo o mesmo erro que cometeu com o PSP, tornando-o um sucesso isolado no Japão, dependente da série Monster Hunter e com uma vida útil limitada.

Nessa equação tão complicada, nós queremos saber de vocês: o PS Vita está fadado ao sucesso ou ao fracasso?

Revisão: Rafael Becker