Você ainda se lembra da época em que os RPGs japoneses dominavam o mercado? Quando a Square ainda era uma das desenvolvedoras de games mais respeitadas? Lembra-se de todas as revistas de games terem imagens da sedutora Aya Brea? Pois bem, tudo isso está ligado a Parasite Eve e à época em que esse jogo foi lançado. Com toda a sua ousadia e criatividade, misturava uma história com um rico pano de fundo científico e elementos de horror e ação. Confira porque ele foi tão marcante.
Em 1998, o Japão possuía uma fatia enorme do marcado de videogames. Sony, Nintendo e Sega eram as únicas concorrentes, e essa última já mostrava sinais de que perdia a força. Os games em si eram em sua maioria produzidos no próprio Japão, especialmente os RPGs. O mercado ocidental se orientava principalmente para os PCs. A Square era, sem dúvidas, a desenvolvedora mais aclamada, com seus Final Fantasy. Foi aí que eles resolveram assumir um risco e produzir um jogo que misturava horror, RPG e ação. O nome era Parasite Eve, e ele foi o primeiro jogo da Square a receber a classificação M, de Mature - Para Adultos, se preferir.
Continuação de... um livro?
Pois é, Parasite Eve nasceu de um livro de um autor japonês chamado Hideaki Sena. Na obra do escritor, um cientista perde sua esposa num acidente de carro e doa os rins dela a uma garota. Enquanto isso, ele continua trabalhando numa cultura de células dos rins da falecida esposa. Sem saber, o cientista estava sob a influência de suas mitocôndrias, que são as "fábricas de energia" das células, praticamente organismos independentes, com seu próprio código genético. Essas mitocôndrias, que vinham evoluindo há milhares de anos dentro dos corpos dos humanos, haviam se juntado na forma de uma entidade consciente chamada Eve (ou Eva), que agora habitava o corpo de Kyiomi, a esposa de Toshiaka, o cientista.
Eve planejava fecundar-se e dar à luz uma criança capaz de controlar seu próprio código genético, alcançando o real potencial das mitocôndrias e tomando o controle de todas as formas de vida baseadas em células eucariontes. Para a frustração de Eve, ela consegue fecundar a garota que havia recebido seus rins, mas as mitocôndrias "masculinas" do cientista lutam contra as dela e todo o "experimento" se perde.
Mito-o-quê?
Vamos dar uma pausa para falar de mitocôndrias. Como dito, elas são as "usinas" da célula, responsáveis pela transformação de oxigênio em energia para o funcionamento do corpo. Também são elas que causam a morte celular, e, portanto, definem boa parte do crescimento e envelhecimento do corpo humano. Se todas as mitocôndrias de um corpo humano funcionassem ao mesmo tempo, essa pessoa entraria em combustão, por causa do calor gerado. Anote isso.
Para completar, as mitocôndrias têm seu próprio código genético e possuem uma certa independência do corpo humano. Por exemplo: o código das mitocôndrias possui uma "linha" mais fácil de rastrear, mas somente entre mulheres. Tanto que, através de pesquisa utilizando esse material, cientistas descobriram uma "Eva Mitocondrial", uma mulher que viveu na África de quem todos os seres humanos atuais descendem, por parte de mãe. Tudo isso é real, e o jogo se apropriou desse pano de fundo científico para montar sua história.
Parasite Eve, o jogo
E então chegamos finalmente ao jogo. Parasite Eve foi lançado em 1998, com essa mistura inusitada de horror, ação e RPG e uma heroína linda e que acabou marcando como uma das maiores musas dos games (vide o nosso Top 10).
Ainda um game da época dos encontros aleatórios (embora a Square ainda ache que isso funcione nos dias atuais...), bastava que Aya andasse pelos lugares determinados em que ocorriam essas batalhas para a tela piscar e esses monstros entrarem em cena. Era possível fugir das batalhas, mas isso fazia com que ela se repetisse quando você passasse novamente pelo local.
Numa mistura de batalha em tempo real e turnos, bastava que o jogador entrasse num "menu de ações", para ordenar que Aya atacasse, usasse seus poderes ou usasse algum item. No lado mais dinâmico da coisa, o dano que as armas causavam variava muito de acordo com a distância do inimigo.
Bem à moda antiga, havia um contador de tempo entre os turnos, uma barra de energia para os poderes de Aya, chamada PE (Parasite Energy, o similar dos costumeiros MP) e uma barra de HP.
Parasite Eve, a história
Como "continuação" do livro, Parasite Eve soa mais como um remake. Em vez de um cientista, temos Aya Brea, uma jovem policial de New York que perdeu a irmã e a mãe quando era muito nova em um (você adivinhou) acidente de carro.
Em uma bela noite próxima do Natal, Aya vai à ópera e uma das atrizes, Melissa Pearce, se comporta de maneira estranha no palco. Boa parte do elenco e da plateia entra em combustão espontânea, tornando Aya e Melissa as únicas sobreviventes. Ao seguir a atriz até os bastidores, ela lhe diz que "suas mitocôndrias em breve irão acordar", antes de se transformar numa espécie de monstro, declarar que agora responde por Eve e fugir pelos esgotos. A educada moça também produz uma infinidade de monstros com as mitocôndrias alteradas, desde ratos até um jacaré (que provavelmente veio daquela lenda urbana de pessoas que jogam jacarés no esgoto de cidades grandes).
Eve aterroriza New York, atacando um concerto de Natal no Central Park e diluindo o público em uma massa de "caldo orgânico", que ela controla. O parceiro de Aya, Daniel, perde sua esposa nesse incidente, e Manhattan tem de ser evacuada. É nesse cenário de caos que Aya descobre que suas próprias mitocôndrias possuem habilidades especiais e que estão lutando contra as de Eve, que tem como objetivo, novamente, dar à luz um "Ser Supremo".
EX Game
Em algo bastante novo para a Square, Parasite Eve contava com um modo EX, ou seja, um New Game +. Nele, Aya já começa com o equipamento do início do jogo e é possível acessar o Chrysler Building, um prédio de 77 (!) andares, repleto de inimigos e que só permite saves após dez andares e a derrota de um chefe. É um teste de resistência, mas oferece ao final o verdadeiro final do jogo.
Trilha sonora
A trilha de Parasite Eve foi bastante marcante por misturar elementos de ópera e música eletrônica de forma satisfatória, especialmente durante batalhas importantes. A música que toca nos letreiros finais chama-se Somnia Memorias, e possui uma relação interessante com a história do jogo, embora seja cantada toda em espanhol e latim, confira:
Por sua história complexa e apaixonante, personagens bem trabalhados psicologicamente, incríveis cutscenes e uma ousadia enorme para a época, Parasite Eve pode ser considerado um marco do videogame e merece destaque.
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